SUS VAI CONTAR COM REMÉDIO QUE REDUZ EM 89% O RISCO DE MORTE
A farmacêutica MSD (Merck Sharp & Dohme) trabalha com a expectativa de que o antiviral oral contra a Covid-19 desenvolvido por ela, o molnupiravir (nome comercial Lagevrio), esteja disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) já no começo de julho. O medicamento foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na quarta-feira para uso emergencial em grupos específicos.
O próximo passo é a avaliação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde). As tratativas para a distribuição do medicamento no Brasil vão ser feitas pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que firmou um acordo de cooperação tecnológica com a MSD nesta quinta-feira.
Em entrevista ao R7, o diretor da Unidade de Negócios de Infectologia da MSD no Brasil, Mario Ferrari, diz que, apesar de não haver uma data certa para o remédio estar disponível no país, a empresa trabalha com o horizonte de algumas semanas. “A Fiocruz que vai assumir essas conversas com o governo, mas essa é a nossa expectativa, que em semanas isso aconteça. Uma vez tendo um parecer positivo, o governo sinalizando para a incorporação, a gente está se preparando para receber qualquer demanda do SUS e poder atender de quatro a seis semanas. É mais ou menos o tempo que a gente precisa fazer para a droga chegar aqui.”
O molnupiravir foi aprovado para uso em pessoas que mesmo vacinadas tenham risco de desenvolver formas graves da Covid-19, como pacientes oncológicos, portadores do vírus HIV, indivíduos transplantados ou imunossuprimidos, entre outros. Caberá ao Ministério da Saúde definir quais grupos serão elegíveis a receber o remédio no SUS, o que impacta também na quantidade de tratamentos a ser encomendada, afirma o executivo.
Ele ressalta que a farmacêutica já produziu globalmente 10 milhões de tratamentos em 2021 e está fabricando mais 20 milhões neste ano. “Nos dá um nível de conforto em dizer que a gente está preparado para atender à demanda do SUS. Qualquer que seja essa demanda, aparentemente, temos capacidade de atender.”
Na avaliação dele, é fundamental ter tratamentos como o molnupiravir para vencer a pandemia. “A gente tem falado muito do fim da pandemia, de conviver com o vírus. Só vamos poder ter essa segurança de que podemos conviver com essa doença de uma maneira relativamente de sucesso – e as pandemias foram controladas dessa forma – quando a gente conseguir diagnosticar, prevenir com vacina e tratar aqueles que eventualmente se infectam. Sem essa tríade, a gente não controla e não convive confortavelmente com o coronavírus.”
O antiviral foi desenvolvido por uma empresa de biotecnologia dos EUA sem fins lucrativos – a Drug Innovations at Emory – que recebe financiamento parcial do governo norte-americano. Posteriormente, a fórmula foi licenciada pela empresa Ridgeback Biotherapeutics, sediada na Flórida, que firmou acordo com a MSD para viabilizar os estudos clínicos e a produção.
Os testes avançaram para a fase 3 (final) em abril de 2021, após resultados promissores em voluntários que fizeram uso do medicamento nos primeiros dias desde o início dos sintomas. O pedido de uso emergencial na Anvisa foi protocolado em 21 de novembro. O molnupiravir já foi aprovado por importantes agências reguladoras, como a dos Estados Unidos, do Reino Unido, da União Europeia e do Japão, e já está em uso em 17 países.
A aprovação da Anvisa para grupos de risco beneficia justamente indivíduos que podem ter o esquema vacinal contra a Covid-19 em dia, mas ainda assim evoluir para quadros de saúde críticos. “Em um país continental como o Brasil, se falarmos de grupos de risco, estamos falando de milhões de pessoas que não vão ter uma proteção ideal [pela vacina] e que vão continuar sob risco. […] O tratamento vai dar um conforto para esse paciente que ainda tem o receio de desenvolver uma doença grave. São pacientes com câncer ativo, imunodeprimidos, transplantados, com doença cardíaca, obesidade, diabéticos…”, observa o diretor da MSD Brasil.
O tratamento deve ser iniciado em até cinco dias do início dos sintomas em pacientes que não estejam necessitando de oxigênio suplementar. O remédio não é indicado para gestantes. São quatro comprimidos, duas vezes ao dia, durante cinco dias. Além de evitar mortes, a droga também minimiza o risco de hospitalização.
Acordo com a Fiocruz
O acordo assinado nesta quinta-feira com a Fiocruz prevê que a entidade seja responsável pela armazenagem, administração, rotulagem, embalagem, testagem, liberação e importação do remédio para o SUS.
Além disso, duas pesquisas estão sendo conduzidas pela fundação. A primeira, em estágio mais avançado, envolve o uso do molnupiravir como profilaxia pós-exposição, ou seja, para indivíduos que tiveram contato com alguém infectado e podem desenvolver a Covid-19. Elas poderiam tomar o remédio antes mesmo de apresentar qualquer sintoma, a fim de evitar que a doença se instale. Os resultados devem sair até o fim deste ano e poderão embasar um pedido de extensão do uso do molunupiravir junto à Anvisa.
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